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O que o Recife lhe ensinou? 
Prosseguindo  uma parceria iniciada com o Interpoética em 2008, a Gerência de Bibliotecas e  Formação de Leitores da Secretaria Municipal de Educação fecha o ano de 2009  com excelentes resultados decorrentes da sua Formação Continuada de Mediadores  de Leitura. 
Para registro do feedback – tanto através  da GBFL, tanto através do Interpoética – aqui divulgamos uma das atividades  propostas pelo poeta Raimundo de Moraes numa das formações promovidas pela  Gerência. O desafio era, aproveitando o tema do ano letivo - Recife cidade educadora – propor uma  resposta à pergunta: o que o Recife lhe ensinou? Respostas variadas,  depoimentos emocionantes, opiniões que mesclam sentimentos. O difícil trabalho  de escolha não foi pelo crivo de textos com maior conteúdo literário, mas sim  aqueles textos que mais exemplificam o fascínio dessa cidade de poetas sobre as  pessoas que nela vivem e/ou que aqui nasceram. 
Em 2010, com certeza estaremos divulgando outras  atividades da GBFL e seu atuante trabalho de alicerce e fomentação do hábito da  leitura. 
 
RECIFE  
Recife das pontes e rios 
Unindo diversos caminhos 
O pé da lama atolado 
Caranguejos cozidos,  assados. 
Passado na Boa Viagem 
Diversão dispensa idades 
A tez amorenando 
Do branquelo galetando. 
Museus, igrejas, mercados 
Mercadorias, histórias,  pecados 
Nos bares do porto  meninas 
Vendendo canelas finas. 
Judeus, árabes,  portugueses 
Vêm e vão todos os meses 
Constroem sonhos,  realizam desejos. 
Sobram herdeiros  nascidos de beijos. 
Nos terraços a sós 
Balança Recife dos meus  avós. 
“carnaviais que alegram  a gente” 
Flashes de memória,  passado e presente     
                     Favela por todos os lados 
                      Miséria e fome maquiados 
             Noite esconde perigos 
             Nos patrimônios feridos.  
Recife das pontes e rios 
Alegra corações vazios 
Sol ano inteiro a  brilhar 
E a cidade cresce, sem  parar. 
Aldonez Pereira da Silva Escola Municipal Vila São Miguel  
 
 
A  cidade que amo   
O Recife com sua beleza e sabedoria ensinou-me desde  pequeno a amar o carnaval. Meu pai, no carnaval, preparava a mochila com  lanches, ia para o Pátio de São Pedro, colocava meus três irmãos e eu sentados  nos degraus da igreja e ali assistíamos às apresentações das agremiações. 
O carnaval d Recife para mim é motivo de muita  alegria, pois o festejo com grande devoção, as igrejas católicas trazem muita  paz na hora do almoço e mais lindo ainda quando às cinco horas da manhã do  domingo ela está vazia. 
Ando pelas ruas e ao observar os prédios  monumentais aos domingos vejo que muito não se vê durante a semana, nas  correrias do dia a dia e que pouco se escuta o Recife falar. 
Dentro dela encontro as mais variadas manifestações  populares, culturais e religiosas. Como ela fala! 
Joseildo  Pereira da Silva Filho (Recifense, Nordestino, Brasileiro)  
Escola Municipal Córrego  da Bica 
 
 
O que o Recife me ensinou 
Tu me ensinaste a  nascer, 
A crescer, 
A absorver teus  trejeitos. 
Me ensinaste a olhar  teus defeitos, 
Pensar que eram todos  direitos, 
Pois por todos, tu eras  perfeito. 
Me ensinaste por isto,  agora, a ver melhor 
Através do vermelho de  meus olhos, 
E não apenas um mero  olhar, 
Que para melhorar 
Era necessário te  abandonar 
Mesmo em ti estando, 
Mesmo em ti a caminhar, 
Era... necessário...  te... abandonar. 
E agora, eu Recife!  Te vejo, 
Enquanto os outros 
Vivem a te olhar. 
Marco  Aurélio Acioli Dantas  
Escola Municipal  Engenheiro Enaldo Coutinho  
 
 
O Recife certamente me  ensinou muitas coisas. 
Algumas boas, outras nem  tanto, e tantas outras que preferia nem aprender. Antes de mais nada é preciso  aprender que é um tanto quanto complicado se viver numa cidade grande, pois se  viver num centro urbano significa conforto ou desenvolvimento, sem sombra de  dúvida também significa problemas. 
A capital da terra dos  altos coqueiros (centro da nova Roma de bravos guerreiros e outros tantos  termos saudosistas) me ensinou que cochilar de madrugada em alguma de suas  tantas praças  pode não ser uma boa ideia,  e que ela faz jus ao título de “bastante violenta”. Ensinou-me também que se  você deseja sair à noite é melhor reservar m dinheiro a mais para o táxi, pois  ônibus com nome de pássaro noturno, definitivamente não são convidativos ou  confortáveis. A saudosa Mauricéia dos grandes poetas e praias belas também me  mostrou em sua face que a fome, ignorância, miséria e desigualdade também  Veneza, vai saber... 
Mas nem só de  negatividade estrutura-se a lendária terra dos revolucionários de 17. Sob o  calor escaldante que frita os miolos, consigo ver, apesar do desemprego e em  meio a um assalto ou outro, uma acidade muito bonita, que com suas pontes e  rios e prédios e praças, ofusca, na aurora e sob estrelas, um pouco da poluição  e do caos urbano. 
Recife me ensinou muitas  coisas e enquanto ondas se quebram em Boa Viagem, carnavais se repetem,  crianças catam latas e caranguejos viram lendas, Recife continuará me  ensinando. 
Thiago  Santana  
Escola Municipal  Maria da Paz Brandão  
 
 
Lendas urbanas – começo  pelo lado um tanto quanto misterioso as histórias contadas de geração para  geração como por exemplo, a história da “perna cabeluda”. Era uma perna, isso  mesmo, um membro inferior sem um corpo. Essa perna agia de forma bastante  agressiva, atacando transeuntes na cidade do Recife Dizem que essa perna tinha  predileção em atacar mulheres (seria a perna de um tarado?). Essa história da  “perna cabeluda” é uma lenda urbana recente, meados dos anos 80. O jornalista  Jota Ferreira reivindica sua autoria, o mesmo conta que um dia estando de  plantão no Derby, onde se encontra o Hospital   da Restauração (HR) não havia ocorridos fatos policiais (bons tempos) o  que lhe causava uma grande angústia, afinal ele seria chamado a intervir, e não  poderia dizer que simplesmente, não haveria ocorrências para noticiar, então o  mesmo “soltou o boato” do aparecimento de uma “perna cabeluda” que atacava as  pessoas. Para surpresa de do próprio Jota, assim que divulgou tal fato, logo  chamaram pessoas dizendo-se vítimas do agressor em questão. A partir de então,  a história da “perna cabeluda” tem motivado o imaginário popular do Recife,  inclusive, a fazer parte de uma letra de Chico Science e Nação Zumbi,  banditismo por um questão de classe, na qual o compositor relata no trecho “Galego  do Coque” (esse, sim, um algoz que de fato existiu) não tinha medo da “perna  cabeluda”. Existe, também, uma lenda que fala da “emparedada da rua Nova”,  conta a história de uma jovem que estando grávida foi relatar a seu amante,  este, então, tratou de livrar-se dela, de uma maneira bem incomum. O mesmo  assassinou-a e “abriu” um buraco na parede da sala e ali consolidou o buraco da  parede como uma sepultura. Meses depois foi preso pelo desaparecimento da moça,  confessando o ocorrido, então os moradores que habitavam tal residência, em  períodos posteriores, relatam a aparição de uma jovem revelando estar  “emparedada”. 
Sobre minha vida  enquanto morador do Recife tive a oportunidade de morar em dois bairros (Santo  Amaro/ Zona Norte e Cordeiro/Zona Sul, onde vivo até hoje).  Minha infância e adolescência se desenvolveram  no primeiro, pois ali morei até os 17 anos de idade. Foi uma época bem feliz,  tive uma infância de interação com o ambiente, pois brincava na rua, futebol,  polícia e ladrão, pipa, bola de gude, garrafão, pião, espeto, barra-bandeira,  tive realmente momentos felizes. No Cordeiro tenho minha vida adulta e me sinto  bem morando nesse bairro, subúrbio querido com várias opções de entretenimento  (Sala de Reboco, Mercado da Madalena, pertinho do Centro, da UFPE, onde estudo,  perto de Boa Viagem), acessibilidade a bancos, supermercados, hospitais, enfim,  um subúrbio de centro ou seria o contrário? Voltando, também, tem um lado meio  estranho nessa cidade, a vocação para todos tem um de antes de eu nascer, que  minha mãe relata que “espalharam” que a represa de Tapacurá tinha “estourado” e  o pânico tomou conta da cidade, uma correria incrível pelas ruas, a Conde da  Boa Vista tomada de caos, no final, tratava-se de um boato. O gaiato? Ninguém sabe.  Recife me ensinou a ser moleque e crítico. 
Fábio  Luciano de Assis Alves  
Escola Municipal Vila Santa Luzia  
 
 
Identidade. A principal  coisa que o Recife me ensinou foi reconhecer minhas origens, de onde vim. 
Ainda criança, a  formação da minha identidade de origem se deu quando eu ouvia dos meus avós  maternos as histórias sobre o bairro de Campo Grande, onde eles nasceram e  cresceram. 
Eram histórias simples,  de vidas comuns, mas cheias de encanto. 
Cresci escutando falar  dos bondes, do meu avô que gostava de brincar nos trilhos e que uma vez passou  sabão neles para ver se o bonde descarrilava – e descarrilou? 
Eram histórias sobre  açougues, mercearias, sobre os charreteiros que iam lavar os cavalos no  chafariz, sobre as fantasias que minha avó fazia para o carnaval e sobre como  ela dançava nos clubes. 
Quando mais velha,  aprendi sobre as revoluções nas aulas de História. Mas aprendi a ser realmente  recifense quando sai da sala de aula e fui – sozinha – pelas pontes e ruas  conhecendo-as e imaginando o que um dia já acontecera ali. 
Finalmente, me afirmei  como nascida no Recife, ao conhecer mais a fundo os músicos e escritores  conterrâneos que cantavam e escreviam tudo aquilo que eu sentia pela minha  cidade. 
Taciana  F. Soares Escola Municipal  Célia Arraes  
 
 
O Recife me ensinou a tolerância, o respeito pela  diversidade, pelo colorido. Você  já viu cidade  mais  multicor  que o Recife? São muitas lembranças vivas, que me remetem  à infância. Dia de domingo era dia de alegria, íamos brincar juntos no  Parque 13 de Maio. Primeira sessão de cinema? Foi no São Luiz, filme de Renato  Aragão. E o carnaval então?... Não tem como explicar a sensação, quando ouço  tocar “Voltei Recife” em meio à multidão empolgadíssima no meio da rua...  Recife dos versos, dos poetas, da música, da cultura... Recife pra mim tem  vida, tem história. Histórias de lutas e resistências. Por isso eu amo viver  aqui. 
Tamyres  Maria Roque da Silva 
Escola Municipal  Pe. Mathias Delgado  
 
 
Quase tudo em minha vida,  pois sou duplamente nordestina, desde o DNA. 
Aqui aprendi a valorizar  a cultura, a pesquisar sobre Pernambuco e Recife: multiculturais. Folclore  riquíssimo! Museus. Casa da Cultura. Igrejas seculares. Pesquisadores e  estudiosos embasando meus conhecimentos. 
Aqui vivenciei  sentimentos. Firmei caráter. Respeito ao outro. Cidadania. Nas escolas que  estudei e trabalhei. Na convivência diária com um povo cabra da peste! que ama  e vive vidas severinas quase sempre. E emociona nas artes, nas músicas, nas  letras, nas poesias. 
Aqui realimento meu  arquivo pessoal de lembranças quando saio pelas ruas da cidade, observando a  arquitetura, as praças, as pontes, os rios. Sentindo o sol e a chuva sob  influências e devastações, que o humano, muitas vezes, faz na geografia da  cidade. 
Aqui vivo meu tempo. Um  tempo tríduo, onde passado, presente e futuro me fazem e deixam marcas,  inclusive físicas. Onde ritmos musicais diferentes me soam conforme as emoções.  
Recife é... meu lugar de  aprendizagens. 
Thelma  Regina Siqueira Linhares  
GBFL 
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