sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Aprendizagens no Recife

 

O que o Recife lhe ensinou? Perguntou Raimundo de Moraes numa formação continuada para Mediadores de Leitura do PMBFL-Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores, em 2009. A resposta, em textos diversos foi publicada no http://www.interpoetica.com/hotsite/o_que_o_recife_lhe_ensinou.htm  
e agora reeditada com fotos tirada hoje, numa outra formação do PMBFL: Recital Águas do Capibaribe.



Quase tudo em minha vida, pois sou duplamente nordestina, desde o DNA.

Aqui aprendi a valorizar a cultura, a pesquisar sobre Pernambuco e Recife: multiculturais. Folclore riquíssimo! Museus. Casa da Cultura. Igrejas seculares. Pesquisadores e estudiosos embasando meus conhecimentos.


Aqui vivenciei sentimentos. Firmei caráter. Respeito ao outro. Cidadania. Nas escolas que estudei e trabalhei. Na convivência diária com um povo cabra da peste! que ama e vive vidas severinas quase sempre. E emociona nas artes, nas músicas, nas letras, nas poesias.

Aqui realimento meu arquivo pessoal de lembranças quando saio pelas ruas da cidade, observando a arquitetura, as praças, as pontes, os rios. Sentindo o sol e a chuva sob influências e devastações, que o humano, muitas vezes, faz na geografia da cidade.

Aqui vivo meu tempo. Um tempo tríduo, onde passado, presente e futuro me fazem e deixam marcas, inclusive físicas. Onde ritmos musicais diferentes me soam conforme as emoções.
Recife é... meu lugar de aprendizagens.
Thelma Regina Siqueira Linhares 
       



http://www.interpoetica.com/hotsite/o_que_o_recife_lhe_ensinou.htm
   
 
 
 

 
 
O que o Recife lhe ensinou?
Prosseguindo uma parceria iniciada com o Interpoética em 2008, a Gerência de Bibliotecas e Formação de Leitores da Secretaria Municipal de Educação fecha o ano de 2009 com excelentes resultados decorrentes da sua Formação Continuada de Mediadores de Leitura.
Para registro do feedback – tanto através da GBFL, tanto através do Interpoética – aqui divulgamos uma das atividades propostas pelo poeta Raimundo de Moraes numa das formações promovidas pela Gerência. O desafio era, aproveitando o tema do ano letivo - Recife cidade educadora – propor uma resposta à pergunta: o que o Recife lhe ensinou? Respostas variadas, depoimentos emocionantes, opiniões que mesclam sentimentos. O difícil trabalho de escolha não foi pelo crivo de textos com maior conteúdo literário, mas sim aqueles textos que mais exemplificam o fascínio dessa cidade de poetas sobre as pessoas que nela vivem e/ou que aqui nasceram.
Em 2010, com certeza estaremos divulgando outras atividades da GBFL e seu atuante trabalho de alicerce e fomentação do hábito da leitura.

RECIFE
Recife das pontes e rios
Unindo diversos caminhos
O pé da lama atolado
Caranguejos cozidos, assados.
Passado na Boa Viagem
Diversão dispensa idades
A tez amorenando
Do branquelo galetando.
Museus, igrejas, mercados
Mercadorias, histórias, pecados
Nos bares do porto meninas
Vendendo canelas finas.
Judeus, árabes, portugueses
Vêm e vão todos os meses
Constroem sonhos, realizam desejos.
Sobram herdeiros nascidos de beijos.
Nos terraços a sós
Balança Recife dos meus avós.
“carnaviais que alegram a gente”
Flashes de memória, passado e presente   
                     Favela por todos os lados
                     Miséria e fome maquiados
             Noite esconde perigos
             Nos patrimônios feridos.
Recife das pontes e rios
Alegra corações vazios
Sol ano inteiro a brilhar
E a cidade cresce, sem parar.
Aldonez Pereira da Silva Escola Municipal Vila São Miguel


A cidade que amo 
O Recife com sua beleza e sabedoria ensinou-me desde pequeno a amar o carnaval. Meu pai, no carnaval, preparava a mochila com lanches, ia para o Pátio de São Pedro, colocava meus três irmãos e eu sentados nos degraus da igreja e ali assistíamos às apresentações das agremiações.
O carnaval d Recife para mim é motivo de muita alegria, pois o festejo com grande devoção, as igrejas católicas trazem muita paz na hora do almoço e mais lindo ainda quando às cinco horas da manhã do domingo ela está vazia.
Ando pelas ruas e ao observar os prédios monumentais aos domingos vejo que muito não se vê durante a semana, nas correrias do dia a dia e que pouco se escuta o Recife falar.
Dentro dela encontro as mais variadas manifestações populares, culturais e religiosas. Como ela fala!
Joseildo Pereira da Silva Filho (Recifense, Nordestino, Brasileiro)
Escola Municipal Córrego da Bica


O que o Recife me ensinou
Tu me ensinaste a nascer,
A crescer,
A absorver teus trejeitos.
Me ensinaste a olhar teus defeitos,
Pensar que eram todos direitos,
Pois por todos, tu eras perfeito.
Me ensinaste por isto, agora, a ver melhor
Através do vermelho de meus olhos,
E não apenas um mero olhar,
Que para melhorar
Era necessário te abandonar
Mesmo em ti estando,
Mesmo em ti a caminhar,
Era... necessário...  te... abandonar.
E agora, eu Recife!  Te vejo,
Enquanto os outros
Vivem a te olhar.
Marco Aurélio Acioli Dantas
Escola Municipal Engenheiro Enaldo Coutinho


O Recife certamente me ensinou muitas coisas.
Algumas boas, outras nem tanto, e tantas outras que preferia nem aprender. Antes de mais nada é preciso aprender que é um tanto quanto complicado se viver numa cidade grande, pois se viver num centro urbano significa conforto ou desenvolvimento, sem sombra de dúvida também significa problemas.
A capital da terra dos altos coqueiros (centro da nova Roma de bravos guerreiros e outros tantos termos saudosistas) me ensinou que cochilar de madrugada em alguma de suas tantas praças  pode não ser uma boa ideia, e que ela faz jus ao título de “bastante violenta”. Ensinou-me também que se você deseja sair à noite é melhor reservar m dinheiro a mais para o táxi, pois ônibus com nome de pássaro noturno, definitivamente não são convidativos ou confortáveis. A saudosa Mauricéia dos grandes poetas e praias belas também me mostrou em sua face que a fome, ignorância, miséria e desigualdade também Veneza, vai saber...
Mas nem só de negatividade estrutura-se a lendária terra dos revolucionários de 17. Sob o calor escaldante que frita os miolos, consigo ver, apesar do desemprego e em meio a um assalto ou outro, uma acidade muito bonita, que com suas pontes e rios e prédios e praças, ofusca, na aurora e sob estrelas, um pouco da poluição e do caos urbano.
Recife me ensinou muitas coisas e enquanto ondas se quebram em Boa Viagem, carnavais se repetem, crianças catam latas e caranguejos viram lendas, Recife continuará me ensinando.
Thiago Santana
Escola Municipal Maria da Paz Brandão


Lendas urbanas – começo pelo lado um tanto quanto misterioso as histórias contadas de geração para geração como por exemplo, a história da “perna cabeluda”. Era uma perna, isso mesmo, um membro inferior sem um corpo. Essa perna agia de forma bastante agressiva, atacando transeuntes na cidade do Recife Dizem que essa perna tinha predileção em atacar mulheres (seria a perna de um tarado?). Essa história da “perna cabeluda” é uma lenda urbana recente, meados dos anos 80. O jornalista Jota Ferreira reivindica sua autoria, o mesmo conta que um dia estando de plantão no Derby, onde se encontra o Hospital  da Restauração (HR) não havia ocorridos fatos policiais (bons tempos) o que lhe causava uma grande angústia, afinal ele seria chamado a intervir, e não poderia dizer que simplesmente, não haveria ocorrências para noticiar, então o mesmo “soltou o boato” do aparecimento de uma “perna cabeluda” que atacava as pessoas. Para surpresa de do próprio Jota, assim que divulgou tal fato, logo chamaram pessoas dizendo-se vítimas do agressor em questão. A partir de então, a história da “perna cabeluda” tem motivado o imaginário popular do Recife, inclusive, a fazer parte de uma letra de Chico Science e Nação Zumbi, banditismo por um questão de classe, na qual o compositor relata no trecho “Galego do Coque” (esse, sim, um algoz que de fato existiu) não tinha medo da “perna cabeluda”. Existe, também, uma lenda que fala da “emparedada da rua Nova”, conta a história de uma jovem que estando grávida foi relatar a seu amante, este, então, tratou de livrar-se dela, de uma maneira bem incomum. O mesmo assassinou-a e “abriu” um buraco na parede da sala e ali consolidou o buraco da parede como uma sepultura. Meses depois foi preso pelo desaparecimento da moça, confessando o ocorrido, então os moradores que habitavam tal residência, em períodos posteriores, relatam a aparição de uma jovem revelando estar “emparedada”.
Sobre minha vida enquanto morador do Recife tive a oportunidade de morar em dois bairros (Santo Amaro/ Zona Norte e Cordeiro/Zona Sul, onde vivo até hoje).  Minha infância e adolescência se desenvolveram no primeiro, pois ali morei até os 17 anos de idade. Foi uma época bem feliz, tive uma infância de interação com o ambiente, pois brincava na rua, futebol, polícia e ladrão, pipa, bola de gude, garrafão, pião, espeto, barra-bandeira, tive realmente momentos felizes. No Cordeiro tenho minha vida adulta e me sinto bem morando nesse bairro, subúrbio querido com várias opções de entretenimento (Sala de Reboco, Mercado da Madalena, pertinho do Centro, da UFPE, onde estudo, perto de Boa Viagem), acessibilidade a bancos, supermercados, hospitais, enfim, um subúrbio de centro ou seria o contrário? Voltando, também, tem um lado meio estranho nessa cidade, a vocação para todos tem um de antes de eu nascer, que minha mãe relata que “espalharam” que a represa de Tapacurá tinha “estourado” e o pânico tomou conta da cidade, uma correria incrível pelas ruas, a Conde da Boa Vista tomada de caos, no final, tratava-se de um boato. O gaiato? Ninguém sabe. Recife me ensinou a ser moleque e crítico.
Fábio Luciano de Assis Alves
Escola Municipal Vila Santa Luzia


Identidade. A principal coisa que o Recife me ensinou foi reconhecer minhas origens, de onde vim.
Ainda criança, a formação da minha identidade de origem se deu quando eu ouvia dos meus avós maternos as histórias sobre o bairro de Campo Grande, onde eles nasceram e cresceram.
Eram histórias simples, de vidas comuns, mas cheias de encanto.
Cresci escutando falar dos bondes, do meu avô que gostava de brincar nos trilhos e que uma vez passou sabão neles para ver se o bonde descarrilava – e descarrilou?
Eram histórias sobre açougues, mercearias, sobre os charreteiros que iam lavar os cavalos no chafariz, sobre as fantasias que minha avó fazia para o carnaval e sobre como ela dançava nos clubes.
Quando mais velha, aprendi sobre as revoluções nas aulas de História. Mas aprendi a ser realmente recifense quando sai da sala de aula e fui – sozinha – pelas pontes e ruas conhecendo-as e imaginando o que um dia já acontecera ali.
Finalmente, me afirmei como nascida no Recife, ao conhecer mais a fundo os músicos e escritores conterrâneos que cantavam e escreviam tudo aquilo que eu sentia pela minha cidade.
Taciana F. Soares Escola Municipal Célia Arraes


O Recife me ensinou a tolerância, o respeito pela diversidade, pelo colorido. Você  já viu cidade  mais multicor  que o Recife? São muitas lembranças vivas, que me remetem à infância. Dia de domingo era dia de alegria, íamos brincar juntos no Parque 13 de Maio. Primeira sessão de cinema? Foi no São Luiz, filme de Renato Aragão. E o carnaval então?... Não tem como explicar a sensação, quando ouço tocar “Voltei Recife” em meio à multidão empolgadíssima no meio da rua... Recife dos versos, dos poetas, da música, da cultura... Recife pra mim tem vida, tem história. Histórias de lutas e resistências. Por isso eu amo viver aqui.
Tamyres Maria Roque da Silva
Escola Municipal Pe. Mathias Delgado


Quase tudo em minha vida, pois sou duplamente nordestina, desde o DNA.
Aqui aprendi a valorizar a cultura, a pesquisar sobre Pernambuco e Recife: multiculturais. Folclore riquíssimo! Museus. Casa da Cultura. Igrejas seculares. Pesquisadores e estudiosos embasando meus conhecimentos.
Aqui vivenciei sentimentos. Firmei caráter. Respeito ao outro. Cidadania. Nas escolas que estudei e trabalhei. Na convivência diária com um povo cabra da peste! que ama e vive vidas severinas quase sempre. E emociona nas artes, nas músicas, nas letras, nas poesias.
Aqui realimento meu arquivo pessoal de lembranças quando saio pelas ruas da cidade, observando a arquitetura, as praças, as pontes, os rios. Sentindo o sol e a chuva sob influências e devastações, que o humano, muitas vezes, faz na geografia da cidade.
Aqui vivo meu tempo. Um tempo tríduo, onde passado, presente e futuro me fazem e deixam marcas, inclusive físicas. Onde ritmos musicais diferentes me soam conforme as emoções.
Recife é... meu lugar de aprendizagens.
Thelma Regina Siqueira Linhares
GBFL
 
 
 
 
 
 
 
A ESCOLA LINKADA NA POESIA © 2008 interpoética

terça-feira, 5 de novembro de 2013

IDENTIDADE

 
IDENTIDADE

Thelma Regina Siqueira Linhares

 

U ou O eis a questão

que faz toda diferença

quando se trata de Bandeira.

 

U ou O eis o dilema

e não é só questão de grafia

dos nomes desses dois pernambucanos

                                    contemporâneos.

 

 

Com U o Manuel

é Bandeira das letras

pois, principalmente, poeta.

Palavras e rimas: sina.

 

Com O o Manoel

é Bandeira das tintas

pois, essencialmente, pintor.

Nanquim e bico de pena... cena.

 

U ou O eis a questão

que não dá para esquecer:

com U o Manuel Bandeira é poeta.

com O o Manoel Bandeira é pintor.

 

Por favor!

 

(Olinda, 05/11/2013)